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14
2021

Sobre o tempo e a fronteira infinita de tradução

Na linha 90’s extra:

” SÁTÁNTANGÓ “

O cinema volta e meia encontra-se traduzido na sua função artística de descrição da alma humana, e suas complexas relações sociais.

E num cenário apocalíptico, em preto & branco, em meio a um falso messias acontece a história de “Tango de Satã”, dirigido e filmado durante 02 anos pelo cineasta húngaro Béla Tarr.

O cineasta já havia mostrado sua assinatura de estilo em “Kárhozat” (“Danação”, 1988), com a fotografia em preto&branco que desafia a lógica.

Hoje a Hungria é um dos grandes pólos de produção de cinema na Europa, com suas film comissions comerciais, impulsionadas pelo governo de ultradireita.

Uma tradição de cinema que vem dos primórdios, aliada a uma procura por locações que remetem à Alemanha Oriental da década de 1950, e paisagens arquitetônicas em Budapeste.

Mas Béla Tarr é figura fora da curva. o “Tango de Satã” quase não teve apoio para ser rodado, foi fruto de uma obstinação meticulosa de construção de cena a cena.

Filme que ficou esquecido durante um bom tempo, por não se encaixar no formato “de mercado” e por suas mais de 07 horas de duração.

O tempo, no entanto, é circular e variável, fazendo eco a “Rashomon” (1950), de Akira Kurosawa. Mas como parece o tempo sem ação aparente durante mais de 07 horas?

O cinema de Béla Tarr é sobre o tempo do cinema e a fronteira quase infinita de tradução. Não importa apenas a gramática e a linguagem, mas a vida e o relacionamento dos trabalhadores da cooperativa agrícola.

Filmes como “Elephant” (2003) de Gus Van Sant percorrem o mesmo trajeto estético com a steadycam acompanhando as personagens, instigando o vazio como gesto iminentemente político. Ou como gesto estético em “Last Days” (2005) sobre Kurt Cobain.

O cineasta Béla Tarr, que completou 65 anos agora em julho, fez nos últimos anos a obra-prima “Cavalo de Turim” (2011) e um documentário no formato site-specific de cinema expandido “Missing People” (2019), contrastando moradores de rua comendo com visitantes de um museu em Viena.

“Sátántangó” foi lançado em 1994, ano de “Pulp Fiction”, mas parece fazer parte de uma realidade paralela, de outro tempo, o tempo do cinema.

Contraste é a palavra chave, que flui sem percebermos a duração. Filme para ser compartilhado e analisado como obra de cinema que amplia o próprio cinema.

A cena da caminhada de dois personagens contra o vento é a potência do cinema em movimento, pura, suja, simples e complexa.

O filme dividido em títulos de capítulos como “As Notícias que Estão Chegando”, “Nós, os Ressuscitados”, “O Congelamento”, “Somente Problemas” e trabalho “, finalizando com “O círculo está concluído”.

Sinopse: Ao planejar o pagamento que estão prestes a receber, os moradores de uma fazenda coletiva em colapso veem seus planos desolados quando descobrem que Irimiás, um ex-colega de trabalho que eles pensavam estar morto, está voltando para a vila.

Disponível em:

Bit.ly/satantangon

Boa sessão.