dez
03
2021

Vírus as language

ninguém me perguntou, mas gostaria de compartilhar. as cenas principais do meu primeiro filme de ficção científica deveriam estar sendo rodadas agora, neste semana, até final de abril e metade de maio.

o projeto foi contemplado no prêmio catarinense de cinema na categoria curta-metragem e eu proponente pessoa física.

até aí tudo bem, vai ser adiado. mas o que eclode do inconsciente e está mexendo com meus sonhos e ideias hoje, quase que o tempo todo, é a história.

a sinopse: “o governo totalitário fez mais um golpe de estado, disseminando um vírus para normatizar a linguagem e comportamento, através de um programa de edição genética espalhado pelo ar, pelos sons e pela fala.

a cura para o vírus parece ter sido descoberta por um grupo rebelde que vive desterrado numa ilha de zona livre no atlântico sul.”

a ideia de vírus propagada pela linguagem é uma ideia antiga. tem inúmeras pesquisas da neurociência. o que motivou a rodar minha primeira ficção científica foi espelhar no futuro distópico a incomunicabilidade de hoje.

tendo como base a ideia que todo filme narra a impossibilidade de se fazer cinema, e a única saída de se fazer cinema é viver cinema o tempo todo como registro de memórias. como num plano sequência da vida que se referia Pasolini.

o curta seria rodado em novembro de 2019 no tempo diegético de blade runner. mas foi adiado pra abril de 2020.

a memória coletiva e a transdução de energia emocional sobre a matéria viva do que é ser brasileiro, em imagens inventadas, é um tema que não acaba.

com a pandemia acredito que as cenas que estavam marcadas para acontecer de plano sequência com manifestação política e exército e paramilitares nas ruas dificilmente vai acontecer.

dificilmente vou conseguir rodar com tantos figurantes na rua numa situação de risco.

penso agora no cinema de sugestão como do português de João César Monteiro. a cena fica registrada na memória como que ela tivesse sido filmada.

a sugestão de um vírus propagado pela linguagem como fins de controle social foi muita ficção científica. parecia um pouco forçado.

agora vai ser um desafio encontrar uma solução de roteiro e estratégia de produção que dê conta de trabalhar com a hiper-realidade e inflação de imagens.

na foto, desinfecção de um teatro em Wuhan na China, em 02 de abril de 2020, que ilustra matéria do NY Times de hoje sobre teorias de conspiração.